Cruzada da imposição

Por Felipe Lemos

 

 

O ataque terrorista creditado ao grupo Al-Qaeda, ocorrido recentemente e que matou dezenas de pessoas e feriu outras centenas, em Londres e outros países da Europa, obviamente é significativo por diversos motivos. Não somente analistas da geopolítica mundial, mas estudiosos da Bíblia e observadores atentos ao cenário político e religioso mundial vêem nesse episódio aspectos importantes que merecem consideração da parte de todos.

            A imediata reação do presidente norte-americano George Bush foi interessante na medida em que uma de suas primeiras afirmações, após as explosões de bombas na Inglaterra, foi de que “a guerra contra o terrorismo não acabou”. É evidente que a maior parte das nações repudia os atos praticados e de nenhuma forma a Al-Qaeda ou quaisquer grupos inspirados em seus ideais podem ser justificados por esses assassinatos de pessoas inocentes. Mas os EUA, particularmente após as investidas de 11 de setembro, consolidaram-se como os líderes da cruzada antiterror que tem resultado em guerras internas no Iraque e no Afeganistão, considerados dois “pólos” de terroristas a serem dizimados. Infelizmente o que tem se visto é a morte, em maior número, de pessoas que nunca tiveram qualquer relação com grupos armados ou violência. Inclusive estrangeiros são mortos nessas batalhas travadas em países invadidos por tropas norte-americanas e de países aliados como Inglaterra e Itália. É inegável que, a despeito de toda essa carnificina, o governo de George Bush se impõe como liderança natural nessa luta planetária contra os ditos inimigos.

            Em nome de uma busca pela paz (parece até irônico), os EUA deixam claro às demais nações que as ofensivas veementes contra o terrorismo são fundamentais para se garantir a segurança mundial. Depois do 11 de setembro norte-americano e do 7 de julho londrino, Bush tem mais argumentos para conclamar os líderes de outras nações a endurecerem contra os terroristas e certamente obter autorização para novas invasões de países do chamado “eixo do mal”. A Inglaterra é um dos mais fortes braços de apoio dos norte-americanos nessa cruzada contra o terrorismo e cedo ou tarde seria alvo de ataques.

            Mas essa possibilidade de imposição da vontade dos EUA, agora usando como motivo maior para a segurança do mundo, aumenta em relação a outros países. No campo econômico, é notória a estratégia norte-americana de forçar outras nações a aderirem a blocos econômicos em que somente os EUA têm lucro enquanto os demais se tornam cada vez mais dependentes do seu poderio. No campo militar é assim há um bom tempo e agora estamos diante da imposição dos EUA como “xerifes mundiais da paz” ou algo assim. Superiores à Organização das Nações Unidas (ONU) e com voz mais audível do que outros países que integram o conselho mundial. Os EUA se mostrarão mais implacáveis contra qualquer um que se levante para interrromper a sua vingança e as suas ações contundentes de destruição dos inimigos da segurança do planeta. É a busca da paz, dizem seus líderes.

            Para os estudiosos da Bíblia, é momento de abrir os olhos e verificar se toda essa imposição norte-americana é ou não uma séria ameaça à liberdade religiosa.  Por que religiosa? Porque esse processo de paz que os EUA buscam através da guerra passa, também, pela unificação das religiões que é apregoada com intensidade pelo Vaticano. O papado tem incentivado sistematicamente um retorno das igrejas que se separaram da Romana a fim de promover o ecumenismo em sua plenitude. Por essa ótica, essa unificação estimulada com força pelo Vaticano contribui para a paz mundial (a mesma que os EUA anseiam implantar no mundo mediante armas, bombas e mortes de civis nos países que não se sujeitam a suas “condições de pacificação”). Chamados da Igreja Católica Romana são feitos aos anglicanos, aos ortodoxos, aos judeus, aos protestantes, enfim, é um dos processos de maior dedicação atual do papado. Ou seja, temos duas formas de se estabelecer uma paz mundial, fabricadas tanto pelo governo norte-americano como pelo Vaticano. Ambos não estão em campos antagônicos como alguns podem pensar, mas rapidamente querem chegar ao mesmo objetivo impondo sua vontade no campo político e religioso. Tudo, pretensamente, em nome da paz. Contra o terrorismo, contra as igrejas que não queiram uma unificação sem base bíblica e contra todos que não adotarem os preceitos da igreja predominante. Não nos esqueçamos que a antiga inquisição não foi abandonada, mas adaptada aos tempos modernos.

            É fundamental, por isso, estudarmos realmente o que a Bíblia ensina e considerar o que Deus deixou para nós e não tradições transformadas em princípios imutáveis, porém destituídas de uma referência na Palavra de Deus. Pela Bíblia, sabemos que Jesus volta logo e mais ainda em tempos quando tanto se almeja uma paz feita com armas e imposições. Fiquemos com as palavras inspiradas do apóstolo Paulo: “mas, irmãos, acerca dos tempos e das épocas, não necessitais de que se vos escreva, pois vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como um ladrão de noite. Quando andarem dizendo: há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição...”. (I Tessalonicenses 5:1-3 – itálico acrescentado).

 

Felipe Lemos

Jornalista