UMA  RECEITA  ESPIRITUAL

por Morris Venden

 

É

 mais fácil tornar-se um cristão ou permanecer como tal? Ao interrogar as pessoas, tanto jovens quanto idosas, tenho descoberto que elas geralmente acham que é mais difícil permanecer como cristão. Talvez elas tenham experimentado a conversão depois de uma reunião evangelística ou retiro religioso; talvez tenham sido tocadas por um hino ou sermão. Mas depois de algum tempo, o sentimento feneceu, e elas retornaram para onde estiveram antes. Ou talvez tenham descoberto a futilidade de operar sua justiça ou sua fé. E desanimaram. Por que acontece isto? Será que elas não compreenderam como viver a vida cristã? Qual é a base da vida cristã?

Quer você seja um adolescente ou esteja com cabelos brancos e artrite, provavelmente se defronta hoje com estas mesmas perguntas. Como pode o cristianismo tornar-se significativo em sua vida? Como pode você conhecer a Jesus pessoalmente? Eu gostaria de dizer-lhe como a vida cristã se tornou palpável para mim.

Depois de estar no ministério por três anos, entrei em grande dificuldade. Até então, eu fora bem-sucedido em tomar sermões emprestado de outros pregadores, inclusive do meu pai e do meu tio; eu conseguia pregar a respeito dos eventos dos últimos dias e da doutrina da igreja. Mas um dia percebi que não havia nada do meu próprio pensamento e experiência com Cristo nesses discursos. Eu simulava e seguia a rotina por toda a minha vida sem realmente saber o que significava todo este negócio de cristianismo. Ora, como ministro, eu tinha obrigação de ser uma autoridade nisto.

Um dia tentei pregar sobre Jesus, e foi quando descobri que havia caído na armadilha de tentar falar sobre Alguém que eu não conhecia pessoalmente. E quando me dei conta de que a essência do evangelho deveria ser Jesus, mas que o meu enfoque não estava nEle, as coisas começaram a parecer muito desanimadoras. Creia-me, não há nada mais frustrante do que ser um ministro do evangelho sem conhecer a Jesus! Enquanto eu criava úlceras, conscientizei-me dolorosamente de que a menos que eu conhecesse a Jesus Cristo através de uma experiência pessoal, seria melhor procurar outra ocupação.

Resolvi desistir e ir cavar valas, mas eu sabia que se deixasse o ministério, provavelmente me afastaria por completo da religião. Depois de ter crescido no conhecimento da religião, eu não podia deixar de crer que um dia a Santa Cidade de Deus desceria do Céu – e que todos os que já viveram ou morreram se encontrariam pela primeira e última vez. Alguns estariam dentro da Cidade, mas muitos estariam do lado de fora. Pensei que se eu acabasse ficando com a maioria do lado de fora, seria bom saber que eu tinha feito meu melhor para descobrir tudo o que tinha a ver com religião. Então eu seria capaz de ameaçar a Deus e dizer: "Fiz tudo o que sabia. É Tua culpa, não minha, de que eu esteja aqui fora. De qualquer forma, farias melhor abrindo as portas e permitindo que eu entre."

Assim decidi fazer o melhor que pudesse para descobrir as respostas para este assunto de cristianismo. Nas reuniões campais, era tarefa dos ministros armar as tendas. Era aí que eles tinham seu exercício anual, e logo ficavam exaustos. Depois de serem erguidas as primeiras poucas tendas, eles se escondiam atrás delas para cuidar dos seus ferimentos e gastar tempo em discussões teológicas. Lembro-me que alguns dos assuntos eram um tanto insignificantes: O que acontecerá a uma flor no Céu se você a apanhar? Os anjos realmente têm asas? Fiquei obcecado por estas discussões, porque evidentemente a pressuposição era que todos sabiam tudo a respeito do cristianismo de sorte que podíamos gastar nosso tempo conversando sobre trivialidades e coisas que nada tinham a ver com nossa salvação. Enquanto isto, as pessoas estavam querendo saber se os seus pecados eram perdoados e se podiam ter a certeza da aceitação de Deus.

Assim, eu chamei à parte alguns desses ministros, um por um, e fiz-lhes perguntas concernentes à fé e à religião e como isto poderia tornar-se real. Como um companheiro de ministério, eu estava muito embaraçado para admitir que eu tinha interrogações pessoais a respeito disto; de sorte que abordei a eles na terceira pessoa:

– Suponhamos que eu tenha em minha congregação alguém que não sabe como ser salvo. O que devo dizer-lhe?

E começaram a vir as respostas:

– Diga-lhe que ele precisa obter uma nova vida do Alto.

– Bem, como ele faz isto?

– Diga-lhe que estenda a mão e pegue a mão de Deus.

– Como eu, ou melhor, como faz ele isto?

– Ele tem de cair sobre a Rocha e ser despedaçado.

– O que significa isto?

– Significa que ele tem de contemplar o Cordeiro.

– Como contempla ele o Cordeiro se não pode vê-Lo?

– Bem, ele deve contemplar através dos olhos da fé.

– E como pode ele fazer isto?

– Pela entrega da sua vontade.

É triste dizer que voltei para casa da reunião campal mais desanimado do que nunca. Eu já havia usado algumas destas frases imponderáveis em meu próprio aconselhamento e sermões, mas eram sem significado para mim em minha busca de respostas concretas. E fiquei dolorosamente conscientizado de que muito da nossa terminologia e jargão religioso provavelmente não significavam nada para muitas outras pessoas.

Esses termos eram irreais e fora de alcance para alguém que nunca os havia experimentado.

Eu estava decidido a abandonar o ministério, mas alguém disse: "Você ainda não terminou a busca, porque ainda não estudou isto nos livros."

E tive de admitir que lia somente a Bíblia e orava quando tinha de fazê-lo. Mas resolvi estudá-la novamente a fim de descobrir as respostas, procurando maneiras concretas de tornar as frases intangíveis mais significativas.

Comprei todos os livros que havia sobre o assunto de fé, Jesus e vitória sobre o pecado. Naquele tempo não havia muita coisa escrita, mas me deparei com um livro, Caminho a Cristo, que parecia bastante pequeno para que eu pudesse lê-lo de capa a capa sem muita dificuldade. Eu o havia lido antes para uma classe, e tinha sido maçante. Mas desta vez resolvi lê-lo completamente e sublinhar tudo o que ele me dissesse para fazer. Comecei a ler este livro, e infelizmente, sublinhei quase tudo. Também descobri de onde tinham vindo todas as frases intangíveis, imponderáveis: todas elas estavam ali. No momento em que terminei o livro, eu estava bastante zangado para atirá-lo no fogo, porque estas frases sublinhadas ainda eram irreais e intangíveis.

Mas quando fiz uma pausa para refletir sobre as frases, descobri que algo estranho tinha acontecido interiormente. Não pude explicá-lo, mas conquanto me sentisse ainda mais incapaz de descrever o que estivera procurando, eu estava mais decidido a continuar pesquisando. Resolvi tentar mais uma vez, porém desta vez eu sublinharia apenas duas vezes as coisas concretas que eu pudesse possivelmente fazer. Para minha grande surpresa, sublinhei apenas três coisas: estudo da Bíblia, oração e testemunho. E isto não era uma notícia agradável, porque eu preferiria ter lido a lista telefônica a ler a Bíblia, mas achei que seria melhor dar uma chance.

Assim, eu me assentei com esta pequena receita mágica para o sucesso: ler a Bíblia diariamente e orar um pouco para contentar a Deus. Daí, colocar esta mistura no forno para cozinhar por meia hora e sairá o bolo da vitória. Mas o bolo da vitória não saiu!

Quis saber o que havia de errado. Então um dia me deparei com a história de Nicodemos. Uma noite ele foi a Jesus com o propósito de entrar numa discussão. Disse ele: "Senhor, Tu és um grande mestre, e eu gostaria de discutir contigo alguns grandes conceitos teológicos."

Você já esteve envolvido em tal armadilha? Ele queria discutir, dissecar e analisar, mas Jesus lhe disse que o conhecimento salvífico vinha apenas de conhecer a Deus.

Assim, comecei de novo esta fórmula de estudar a Bíblia e orar, mas desta vez comecei a pesquisar as Escrituras com o propósito específico de familiarizar-me com Deus, aprendendo a conhecer a Jesus pelo estudo da Sua vida e ensinamentos nos Evangelhos, e isto fez diferença. Descobri que a justiça não era nada que eu pudesse desenvolver. Era um dom que vinha espontaneamente como resultado do conhecimento de Deus, de conhecer e tornar-me familiarizado com Jesus Cristo.

Desde então tenho procurado outros métodos de continuar minha experiência cristã, outros meios pelos quais alguém aprende a conhecer a Jesus, porém nunca encontrei nada mais. Todas as outras boas obras são o resultado deste tempo diário a sós com Jesus. Não posso nem sequer gerar a fé por mim mesmo; é um dom de Deus. Portanto, todo o fundamento da vida cristã é conhecer a Jesus e ter com Ele um relacionamento pessoal.

Jesus descreve a necessidade de um relacionamento diário com Ele em S. João 6: "Eu sou o pão da vida – o pão vivo que desceu do Céu. Aquele que vem a Mim nunca terá fome e o que crê em Mim jamais terá sede. Se alguém comer a Minha carne e beber o Meu sangue, viverá para sempre, mas se não o fizer, não terá em si nenhuma vida."

Bem, isto parece um pouco confuso, não é? Indaga-se sobre o que pensariam os canibais das ilhas dos Mares do Sul se o seu único contato com o cristianismo fosse essa descrição. Mas Jesus afirmou que Ele estava falando a respeito da vida espiritual do indivíduo: "Minhas palavras são espírito e vida.''

E se você continuar ponderando sobre Suas declarações neste capítulo, descobrirá que Ele estava falando sobre o relacionamento íntimo e pessoal com Ele. Estava descrevendo a vida devocional – em que nos demoramos nEle e Ele em nós. Devemos chegar a um relacionamento tão íntimo com Ele que nossa vontade seja absorvida na Sua. Ele estava nos dizendo que não podemos ser cristãos vivos a menos que O busquemos diariamente.

Um dia me deparei com uma observação interessante: "Ninguém é um cristão vivo a menos que tenha uma experiência diária nas coisas de Deus.'' Ora, esta declaração é um pouco confusa, porque alguns perguntariam: "Bem, o que você quer dizer por 'as coisas de Deus'?''

O legalista diria: "Isto significa que devemos guardar os mandamentos. Temos de adquirir nossa entrada para o Céu."

O pseudo-intelectual diria: "Bem, isto significa que temos de analisar e dissecar todos os excelentes pontos de teologia a fim de compreender."

O pensador positivo poderia dizer: "Isto significa que você deve se persuadir de que todas as promessas da Bíblia acontecerão se você tiver fé suficiente."

A pessoa de fé genuína diria: "Isto significa comer a carne de Jesus e beber o Seu sangue espiritualmente, e isto se refere a uma experiência pessoal com Ele, tendo por base um contato diário com Ele."

O que realmente significa isto? Unta vez li um interessante comentário sobre João 6 que gostaria de partilhar com você:

"A recepção da Palavra, o Pão do Céu, é declarado ser a recepção do próprio Cristo. Quando a Palavra de Deus é recebida na alma, participamos da carne e do sangue do Filho de Deus. ...

"Como o sangue é formado no corpo pelo alimento ingerido, assim Cristo é formado interiormente pela absorção da Palavra de Deus, que é Sua carne e sangue. Aquele que se alimenta desta Palavra tem Cristo, a esperança da glória, formado dentro de si. A Palavra escrita introduz o pesquisador à carne e sangue do Filho de Deus; e por meio da obediência a esta Palavra, ele se torna participante da natureza divina. Como a necessidade do alimento temporal não pode ser suprida participando-se dele apenas uma vez, assim a Palavra de Deus deve ser comida diariamente para suprir as necessidades espirituais.

"Como a vida do corpo se encontra no sangue, assim a vida espiritual é mantida pela fé no sangue de Cristo. ...

"Por causa do desgaste e perdas, o corpo deve ser renovado com sangue, sendo suprido pelo alimento diário. Assim, necessitamos alimentar-nos constantemente da Palavra, cujo conhecimento é vida eterna. Esta palavra deve ser nosso mantimento e bebida. Somente nisto encontrará a alma sua nutrição e vitalidade."

Portanto, mantenho minha experiência cristã passando tempo a sós cada dia para familiarizar-me com Deus. Vivo pela fé em Cristo e permaneço nEle através de Sua Palavra e por intermédio da oração.

"Bem", poderá alguém perguntar, "como me relaciono com Deus se não posso vê-Lo?" Tornamo-nos familiarizados com alguém, inclusive com Jesus, por três métodos simples.

Eles são a base desta receita espiritual que estou sugerindo: Eu me familiarizo com você: 1) conversando com você e 2) ouvindo o que você tem a me dizer. Tornamo-nos mais conhecidos: 3) andando juntos, trabalhando ou fazendo as coisas juntos.

Deus nos deu estes mesmos caminhos pelos quais entramos em íntimo relacionamento com Ele. Só vou me familiarizar com Ele aprendendo quem Ele é, conversando com Ele (oração), e ouvindo o que Ele tem a dizer (estudando Sua Palavra). E então faremos as coisas juntos (o testemunho cristão).

Lembro-me de ter realizado conferências evangelísticas com meu irmão em uma pequena cidade. Alguém trouxe o nome de um homem que era um interessado em perspectiva. Ele morava lá fora no campo, e eu fui visitá-lo. Quando lhe disse que era um pregador que tinha vindo à cidade para realizar conferências, ele disse: "Oh, você é um daqueles pregadores detestáveis!''

E então ele me convidou a entrar e passou meia hora tentando insultar-me, ofender-me e arrasar-me. Disse ele: "Tenho conversado com o travesseiro tanto quanto você, e nunca obtive qualquer resposta."

Ele prosseguiu sem interrupção. Finalmente, terminando a visita, pedi-lhe que nos desse uma chance – apenas comparecesse às reuniões.

Ele respondeu: "Sim, irei e vou dar-lhe muito trabalho."

E ele cumpriu a palavra: continuou indo. Não podia criar dentro do peito um coração novo, mas uma coisa ele podia fazer: podia continuar indo.

Tenho me encontrado com jovens que me disseram que não eram nascidos de novo e que sabiam que eram impotentes para mudar suas vidas. Mas eu lhes disse que eles eram capazes de fazer uma coisa: podiam colocar-se em um ambiente onde isto poderia acontecer.

Se estou tentando dormir à noite, posso fazer no mínimo isto: posso pôr as costas contra o colchão, apagar a luz e desligar o rádio. Posso colocar-me em uma situação em que isto ocorrerá, e mais cedo ou mais tarde isto acontece. Mas geralmente não acontece a menos que eu me coloque neste tipo de ambiente.

E assim esse homem continuou vindo às nossas reuniões, em que fazíamos apenas três coisas: estudávamos a Bíblia, orávamos e testemunhávamos do amor de Cristo. E uma noite ele saiu daquelas reuniões e disse: "Escutem, amigos, vocês têm uma boa conversa de vendedor."

Pensamos: "Bem, esta é uma interessante maneira de expressar isto." Algumas noites depois, quando ele saiu daquelas reuniões, seus olhos estavam um tanto brilhantes, e ele disse: "Acho que preciso do que Jesus tem a oferecer."

Logo depois ele entregou sua vida a Cristo, e nunca me esquecerei do dia em que entramos juntos no tanque batismal. Ele era um homem transformado.

O que havia acontecido? Ele se colocara em um ambiente onde a carne e o sangue do Filho de Deus se tornaram parte da sua vida. Tornei a vê-lo, anos mais tarde, e ele tinha crescido como cristão, porque havia aprendido a passar tempo a sós com Cristo. Tinha aprendido que "o homem pecaminoso só pode encontrar justiça em Deus, e que nenhum ser humano é justo a menos que tenha fé em Deus e mantenha uma conexão vital com Ele''.

Embora a essência da vida cristã seja familiaridade ou relacionamento diário com Jesus, freqüentemente não cremos que isto seja tão fácil. O diabo tenta levar-nos a operar nossa justiça e nossa fé, e costumeiramente depois de termos gasto nosso tempo combatendo o inimigo, não temos qualquer tempo de sobra para familiarizar-nos com Jesus. Somos informados de que toda a armadura de Deus é necessária a fim de sermos vitoriosos (Efésios 6:11-17), mas não percebemos que a armadura é realmente o revestir-nos de Cristo Jesus (Romanos 13:14).

Portanto, continuamos nossa experiência e nossa vida cristã sabendo o que significa pôr-nos de joelhos dia a dia diante da Palavra aberta de Deus. Não há nenhuma outra maneira de conhecer a Deus, exceto através da vida devocional particular e pessoal.

Ora, não peço nenhuma desculpa para escrever especificamente sobre isto. A ausência de uma vida devocional significativa na vida de muitos professos cristãos é muito assinalada. Tenho conhecido ministros que desanimaram, porque os membros das suas igrejas tinham se deparado face a face com verdadeiros problemas, e tendo corrido ao pregador em busca de ajuda, eles admitiram que não tinham gasto nenhum tempo no estudo dos Evangelhos nem passado tempo a sós com Cristo.

Minha pergunta hoje, seja você quem for, é esta: "Você sabe o que significa ter um tempo devocional pessoal e significativo com Deus diariamente?"

Ora, é possível que um legalista pense que está passando tempo familiarizando-se com Jesus, quando na realidade está procurando informação para debater, discutir ou argumentar. E possível que eu passe uma hora atenta, na contemplação de passagens que patenteiam as falhas e deficiências das crenças e práticas dos outros. Mas isto não constitui uma vida devocional significativa, porque o meu enfoque não está em Deus.

Lembro-me de uma pequena e idosa senhora que tinha o hábito de estudar durante horas com o propósito de encontrar frases que ela pudesse usar para dar pauladas na cabeça dos outros. Se você lhe perguntasse se ela tinha uma vida devocional com Cristo, é claro que ela diria que sim.

Mas eu me lembro do dia em que outra senhora pequena e idosa veio para a igreja com suas duas netas. No início daquela semana, as meninas foram fazer-lhe uma visita e presentearam Vovó com um presente que elas mesmo haviam feito: dois colares de contas da loja local de artigos baratos. Ora, Vovó não pensava em usar contas, principalmente na igreja; de sorte que ela agradeceu às duas meninas e colocou as contas em sua gaveta.

Quando chegou o fim da semana, ela convidou suas netas a ir com ela à igreja, e elas responderam: "Sim, Vovó. A senhora não vai usar os colares?'' Ela não sabia o que fazer – e se ela fez a coisa certa não me cabe julgar – mas ela colocou as contas, então puxou a gola do seu casaco sobre o pescoço e foi à igreja. Aquilo, é claro, atraiu imediatamente a atenção da mulher devota.

A irmã devota se encontrou com Vovó na escada, depois do culto, estendeu a mão por baixo do colarinho do seu casaco e arrancou os colares do seu pescoço. As contas caíram na calçada, e as duas netinhas se curvaram para apanhá-las. Por alguma razão, elas nunca mais quiseram ir àquela igreja.

Eu fui visitar a senhora piedosa e disse-lhe:

– A senhora sabe o que significa passar tempo a sós em comunhão com Deus?

– Oh, sim – respondeu ela. E sacou todos os livros que estivera lendo. Em todos eles havia muitas marcas. De fato, ela tinha estado me enviando citações do que estava errado na igreja, mas descobri que a contemplação da vida e do caráter de Jesus estava visivelmente ausente.

O que é essa vida devocional? É um tempo especial em que eu procuro familiarizar-me com Deus. Jamais encontrei um melhor método de aproximação do que passar cada dia uma hora pensativa na contemplação da vida e dos ensinamentos de Cristo conforme estão registrados nos Evangelhos.

"Oh", objeta alguém, "mas o que dizer do restante da Bíblia? O que dizer das doutrinas da nossa igreja?"

Escute, amigo, há apenas dois tipos de informação na Bíblia; uma. é para instrução; a outra é para inspiração. Deus nos guiará às partes instrutivas da Bíblia se O buscarmos, mas elas não são substitutos para as passagens que nos ajudam a conhecer a Jesus como um Amigo pessoal.

Este tempo a sós com Ele é algo mais do que um texto para o dia, com minha mão na maçaneta da porta. É a leitura da Sua Palavra tendo em vista a comunicação, depois ponderando no que eu li. Leio acerca do Seu encontro com pessoas que não eram diferentes de você e de mim hoje. Então oro a respeito do que li, colocando-me na descrição. Eu sou o leproso que foi curado; eu sou o cego cuja visão foi restaurada. E à medida que eu personalizo o que li, aprendo a conhecê-Lo.

O culto em família e na igreja são maravilhosos. Eles podem ser significativos. Mas eles são bênçãos somente se cada um de nós tem uma conexão pessoal com Deus. E Deus prefere que busquemos o poder de manhã para passar o dia, ao invés de pedirmos perdão no final de cada dia por tê-Lo negligenciado.

Ora, alguns fazem objeção a esta receita, porque é inconveniente. Dizem alguns:

– Oh, eu simplesmente me comunico com Deus ao longo de todo o dia. Posso orar no trabalho. Mantenho-me em contato com Deus durante o dia inteiro.

– Sim, mas você põe de lado ou separa um certo tempo do seu dia para comunicação especial e pessoal com Ele?

– Não, eu não preciso disto.

Ora, eu acho que é maravilhoso manter-nos em contato com Deus através do dia. De fato, este é o propósito do tempo separado só para Deus. Não O encurralamos em um pequeno beco durante uma hora, mas fazemos o contato que nos manterá em sintonia com Ele ao longo de todo o dia. Mas tenho descoberto que geralmente quando alguém diz: "Eu apenas me mantenho em contato com Ele todo o dia, mas não tenho nenhum tempo especial a sós com Deus'", está realmente dizendo algo a respeito da superficialidade da sua experiência, porque Jesus disse que você não pode ter vida espiritual a menos que tome tempo especial para o alimento espiritual.

Seria ridículo se eu dissesse ao meu médico: "Eu não preciso comer. Não preciso de três refeições por dia, porque descobri que posso ser nutrido naturalmente ao longo do dia."

Isto não faz sentido no reino físico, porque a nutrição e reposição que continua no corpo humano ocorre como resultado de se ter horas especiais para as refeições. É igualmente insensatez dizer na vida cristã: "Bem, eu não tenho de gastar tempo com Ele. Apenas me mantenho naturalmente em contato no decorrer do dia." De fato, eu gostaria de defender o ponto de vista de que, no que concentre à vida cristã mais profunda, você realmente não se mantém tão próximo de Deus ao longo do dia a menos que tenha um tempo específico para passar a sós com Ele.

"Bem", dirá alguém, "eu não tenho tempo suficiente para gastar nisto."

Escute, meu amigo, se você não tem tempo para orar e buscar a Deus, então você não tem tempo para viver, porque Deus não pode lhe ensinar nada, a menos que você passe tempo com Ele. Eu lhe garanto que se você passar cada dia tempo a sós com Deus, Ele fará com que você seja muito mais eficiente em tudo quanto faz.

Jamais me esquecerei da experiência por meio da qual descobri isto por mim mesmo. Eu tinha começado a perceber a importância de passar tempo a sós com Deus cada dia. ora, eu era um daqueles que estavam encarregados da tenda dos jovens em um acampamento. Tivemos programas o dia inteiro, e depois unta reunião noturna. Após o término de tudo isto, tivemos uma reunião da equipe de auxiliares em que deveríamos discutir planos e problemas para os eventos do dia seguinte. E quanto terminamos eram 11 horas da noite. Devido ao trabalho que tinha de ser feito antes das reuniões da manhã, descobri que eu teria de despertar às 4:30 horas da manhã a fim de passar algum tempo significativo a sós com Deus.

E assim pedi a Deus que se Ele quisesse que eu passasse tempo com Ele, me despertasse às 4:30. Lancei fora o meu despertador e fui para a cama. Subitamente, acordei com um sobressalto. Olhei para o meu relógio, e o segundo ponteiro estava acabando de passar rapidamente pelas 4:30!

Ora, os psiquiatras diriam que eu consegui manipular minha mente para despertar-me, mas duvido disto. Se você estudar a vida de Cristo, descobrirá que Deus O despertava cada manhã a fim de prepará-Lo para o novo dia (Isaías 50:4).

Descobri que se eu tiver de perder o sono a fim de passar tempo a sós com Deus, Ele me dará duas horas de força por uma hora perdida do meu repouso. Isaías 40:28-31 diz que Ele dá forças ao cansado.

Esta receita espiritual de passar tempo a sós no início de cada dia para comungar com Jesus Cristo pode parecer mística e irreal. Muitos de nós estamos tão encerrados dentro de nós mesmos, medindo nosso cristianismo pelo comportamento – pelas exterioridades das proibições e permissões, dos "faça isto e não faça aquilo" – que achamos difícil mudar para o relacionamento. Com freqüência damos a largada em total fé e dependência de Cristo, mas depois de algum tempo, imaginamos que se espera que vivamos uma vida virtuosa separados dEle.

E as exterioridades são mais tangivelmente compreendidas. Não há dúvida quanto a isto. Quando um behaviorista tenta mudar do comportamento para o relacionamento, ele ainda espera que algo aconteça imediatamente como resultado desse tempo a sós com Cristo. Quando a vitória instantânea não ocorre, ele interrompe por uma semana, depois tenta outra vez. E a religião intermitente, do "dia sim, dia não''. Então ele diz: "Bem, sua receita espiritual não funciona!"

É claro que não! Você pode ter religião suficiente para torná-lo miserável, mas não suficiente para ser salvo. Mas S. Lucas 9:23 nos diz que esta experiência pessoal com Cristo tem de ser diária, a fim de ser viva e significativa.

Deus quer que nos relacionemos com Ele, e então pratiquemos o que é correto como resultado de termos Seu poder dentro de nós. E todas as frases intangíveis que são utilizadas para descrever a experiência cristã tornam-se tangíveis e reais através da nossa vida devocional diária e pessoal com Cristo.

Ora, é possível que alguém se engaje neste tempo a sós cada dia como mais um dever exigido para se entrar no Céu. Simplesmente porque uma pessoa come e respira não significa que ela vai ser saudável. Mas ela não será saudável se não comer e respirar. E simplesmente por que uma pessoa lê a Bíblia e ora cada dia não quer dizer que ela terá uma experiência cristã saudável. Mas não há nenhum outro meio pelo qual ela possa aprender a conhecer pessoalmente a Deus em sua própria vida à parte desta experiência diária.

Gostaria de sugerir-lhe que, não obstante o que você venha a sentir, amanhã de manhã você inicie esta experiência de familiarizar-se com Cristo. Se você tomar a Bíblia e ler sobre a vida e caráter de Cristo, percebendo a necessidade da Sua presença em sua vida, e se você continuar sua busca, independente do que aconteça, gradualmente haverá uma mudança, e você começará a aguardar ansiosamente esse calmo tempo a sós com Deus. Tenho visto isso acontecer em minha própria vida e na vida de outros.

Se você buscar diariamente comunhão com Cristo, possibilitando-Lhe habitar e operar em você, descobrirá a realidade de que:

"Coisa alguma é aparentemente mais desamparada, e na realidade mais invencível do que a alma que sente o seu nada e confia inteiramente nos méritos do Salvador. Pela oração, pelo estudo de Sua Palavra, pela fé em Sua constante presença, a mais fraca das criaturas humanas pode viver em contato com o Cristo vivo, e Ele a segurará com mão que nunca a soltará." – A Ciência do Bom Viver, pág. 182.

 

Querido Pai celestial, perdoa-nos por confiarmos em nós mesmos no que tange à bondade e justiça, e por negligenciarmos o essencial da vida cristã. Guia-nos a uma hora significativa a sós contigo diariamente. Se isto parecer difícil e mecânico, cuida de nós, e ajuda-nos a aprender a buscar-Te, não simplesmente por soluções para todos os nossos pecados e problemas, mas pela alegria da real comunicação e comunhão contigo. Ajuda-nos a descobrir cada dia da nossa vida nossa necessidade de Ti. Em nome de Jesus Te rogamos. Amém.

 

 

 

Extraído do livro: Como tornar real o cristianismo.