AS  COISAS  PIORAM  QUANDO  TENTAMOS

por Morris Venden

 

À

s vezes tenho ouvido cristãos dizerem: "O que há de errado com minha experiência cristã? Quando tento passar tempo cada dia familiarizando-me com Jesus, o resto do dia tem sido horrível! Acho-me com mais problemas, cometendo mais pecados do que antes de me tornar cristão. Por que isto não dá certo para mim? Será que eu realmente não me converti?''

Isto não parece bem conhecido? Você já não descobriu que isto é verdade em sua própria experiência? Freqüentemente, quando alguém consagra a vida a Cristo, tem a impressão de que todos os seus problemas serão resolvidos de uma vez por todas. Talvez ele tenha escutado as histórias de sucesso de outros, e assim fica desanimado quando suas próprias falhas aumentam.

Conquanto pareça sacrílego dizer que muitas vezes vivemos pior quando oramos do que quando não oramos, muitos têm descoberto ser esta experiência uma realidade em sua própria vida, o enigma de experimentar vida pior em termos de desempenho e comportamento quando uma pessoa ora, tem levado muitos a desistir de continuar buscando a vida mais profunda com Cristo. Visto que cristãos frustrados me têm perguntado repetidamente sobre isto, creio que é importante compreender por que as coisas necessariamente não melhoram logo que vamos a Cristo.

A fim de compreendermos a resposta que exige esta pergunta, temos de dar uma olhada para o cenário maior – o conflito entre o bem e o mal, e quando virmos o que ocorre e por que isto é permitido, talvez tenhamos uma compreensão melhor do motivo por que as coisas pioram quando oramos.

Milhares de anos atrás um homem experimentou isto em sua vida, e um livro inteiro da Bíblia é dedicado a este caso sem precedentes: o livro de Jó.

Um dia os membros da corte celestial se reuniram na presença do Senhor. Satanás estava entre eles, representando o nosso mundo, e quando o Senhor lhe perguntou onde estivera, veio a resposta:

– De rodear a Terra, e passear por ela. De fato, eu estou dirigindo lá embaixo. Todos estão me seguindo!

O Senhor lhe perguntou:

– Tens certeza de que todos estão te seguindo? Não deves ter notado o Meu servo Jó. Ele é uma pessoa especial na Terra, porque tem uma vida correta e irrepreensível; ele Me respeita e recusa fazer o mal.

– Bem, ele tem boas razões para servir-Te respondeu Satanás. – Afinal, o cercaste completamente com a Tua proteção. Olha para sua família e todas as suas posses! Tu abençoas tudo o que ele faz, e os seus rebanhos aumentaram desmesuradamente. Não é de admirar que ele Te adore! Mas até onde vai, realmente, tal lealdade? Se não continuares a abençoá-lo com todas estas posses materiais, ele ainda Te servirá? Se estenderes a mão e retirares tudo o que ele tem, ele blasfemará contra Ti na Tua face.

A discussão prosseguiu, e finalmente Satanás disse:

– Tu Te consideras justo e imparcial. Se aceitares o meu desafio, provarei que o seu amor por Ti é apenas aparente e sem valor.

Ora, Deus não era obrigado a aceitar o desafio do diabo. Realmente, Ele jamais foi obrigado a permitir que o diabo continuasse vivendo depois de introduzir o pecado no Universo. Mas por causa do Seu grande plano de redenção, em que escolhemos o lado que iremos seguir, Deus teve de aceitar o desafio do diabo. Ele respondeu:

– Seja assim. Tens liberdade de fazer o que te aprouver com suas posses. A única restrição é que não toques no próprio Jó.

O diabo concordou com as condições e deixou imediatamente a presença do Senhor para iniciar sua obra maligna. Em rápida sucessão, tragédias caíram sobre Jó. Os sabeus roubaram suas mil juntas de bois e mataram os servos; o fogo destruiu suas 7.000 ovelhas, e três bandos de caldeus levaram seus 3.000 camelos. O pior golpe veio quando seus dez filhos foram mortos durante uma festa em casa do irmão mais velho. De fato, Jó perdeu tudo, exceto sua esposa. Talvez, como você pode ver por suas futuras ações, ela deveria ter sido a primeira a ir! Em todo caso, Jó não amaldiçoou a Deus nem o acusou pelas calamidades que lhe sobrevieram.

Satanás voltou à reunião seguinte do concílio com os membros da corte celestial. Eles tomaram seus lugares na presença de Deus e Deus interrogou o diabo a respeito de suas recentes atividades. Satanás respondeu:

– Oh, eu estive rodeando a Terra, e passeando por ela, reunindo mais e mais pessoas ao meu lado!

– Bem, ao menos uma pessoa não se desviou da sua fidelidade a Mim – lembrou-lhe Deus. – Meu servo Jó é irrepreensível e justo. Ele evita toda espécie de mal porque Me ama. Tu Me incitaste a arruiná-lo sem causa, mas sua integridade é ainda inabalável. Tu perdeste o desafio, e isto prova que Jó ainda tem o motivo adequado para servir-Me.

Mas Satanás ainda não estava disposto a admitir a derrota. Fez imediatamente novas exigências para testar a justiça divina.

– Não há nada que o homem recuse para salvar a si mesmo. Pele por pele! O Teu teste não foi justo, porque não me permitiste tocar nele. Se estenderes a mão e tocares em seus ossos e em sua carne, ele então blasfemará de Ti na Tua face!

– Assim seja – respondeu Deus. – Ele está em tuas mãos. Podes fazer tudo o que quiseres com ele, mas deves poupar-lhe a vida.

O diabo deixou a. presença de Deus e feriu a Jó de tumores malignos da cabeça aos pés. Jó foi obrigado a se assentar lá fora em um montão de cinzas, tentando em vão se livrar das suas misérias. A esta altura a Sra. Jó observou: "Ainda persistes em acreditar que Deus irá proteger-te? Isto mostra que Ele te abandonou. Ainda valerá a pena servi-Lo? Por que não o amaldiçoas e morres? Então todas as tuas aflições estarão terminadas!''

Quando ela proferiu estas palavras, o diabo provavelmente sorriu, porque fora bem-sucedido em levá-la a acusar a Deus por todos os infortúnios e agruras. Observou ele aos seus demônios: "Agora temos sua esposa do nosso lado. Apenas uma questão de tempo, e teremos também a Jó. Não podemos falhar. O sucesso está a caminho!"

Quando, porém, o teste se encerrou para Jó, sua integridade permaneceu inabalável, porque ele recusou amaldiçoar a Deus, e como resultado, Deus pôde restaurar-lhe o dobro das posses, sem mais objeção ou desafio do diabo.

Você já perguntou a si mesmo por que Deus permitiu que o diabo desafiasse Sua justiça? Por que permitiu Ele que o diabo O provocasse desta maneira? Quase faz parecer que Ele não tinha poder suficiente para cuidar do Seu povo.

É claro que Deus é suficientemente grande para proteger Sua propriedade, e o diabo sabe disto. Seu ataque constante é para ver se aqueles que professam seguir a Cristo são discípulos genuínos.

– Achas que esta pessoa realmente Te ama? Não é assim! Ela se aproxima de Ti unicamente por causa dos bens que obtém de Ti. Posso provar isto. Dá-me a oportunidade.

– Vai adiante – responde Deus. – Tenta provar, se puderes.

Por que Deus concorda? No grande plano da redenção, Ele Se comprometeu a nunca ultrapassar os limites até que as questões em todo o conflito estejam claras, além de qualquer sombra de dúvida para o Universo. Ele voluntariamente limita Seu poder em proporção às opções que dá ao diabo. Nas cenas finais da história deste mundo, embora pareça evidente que Deus está permitindo que o mundo corra completamente sem restrições, Ele também terá liberdade para derramar o Seu poder, Sua força, e o Espírito Santo em maior medida, competindo o bem com o mal em seu impacto sobre um mundo de pecado. Em algum ponto, neste conflito entre o bem e o mal, entre Cristo e Satanás, nos envolvemos, porque o príncipe do mal disputa cada polegada do terreno sobre o qual o povo de Deus avança em sua jornada para a cidade celestial.

"Bem", poderá alguém perguntar, "se a guerra é entre Cristo e Satanás, como devo eu me envolver na situação?"

O livro Educação sugere que estamos muito envolvidos:

"O estudante [da Bíblia] deve obter conhecimento... do propósito original de Deus em relação a este mundo, da origem do grande conflito, e da obra da redenção. Deve compreender a natureza dos dois princípios que contendem pela supremacia. ... Deve enxergar como este conflito penetra em todos os aspectos da experiência humana; como em cada ato de sua vida ele próprio revela um ou outro daqueles dois princípios antagônicos; e como, quer queira, quer não, ele está mesmo agora a decidir de que lado do conflito estará.'' – Pág. 190.

Em outras palavras, este mesmo conflito que se abateu sobre a vida de Jó prossegue na experiência de cada pessoa. Pode ser, entretanto, que para o laodiceano ele não seja tão notório, porque o diabo acha a mornidão – não estar preocupado nem com o que é quente nem com o que é frio – muito aceitável para todo o seu programa.

Se você ainda está operando no nível de "Jesus me ama, eu o sei" e nunca procurou uma amizade mais profunda e um contato pessoal de comunhão com Deus, então você provavelmente jamais se preocupou com o motivo por que as coisas vão mal quando você ora. Este assunto poderia ser altamente irrelevante agora. Mas se você decidir-se a buscar um relacionamento pessoal com Deus que vá além da mera formalidade, que é mais do que ir à igreja e parecer religioso, então esteja preparado para esta experiência em sua vida. Talvez, se você compreender o quadro global, conservará sua coragem quando isto acontecer.

"Bem", dirá você, "o que acontece exatamente quando eu assumo o bom combate da fé tentando buscar a Deus com a finalidade de conhecê-Lo como meu Amigo?''

Basicamente, é isto o que acontece: Primeiro, você desperta para a percepção de que a salvação e a vida cristã mais profunda não se baseiam em desempenho ou exterioridades. Estão baseadas unicamente no relacionamento com Deus. Esta ruptura é o primeiro passo para o afastamento do status quo de cristão morno, e pode levar anos até que isto seja plenamente compreendido na experiência. Depois de tentar ensinar este importante conceito aos estudantes, tive de concluir que somente o Espírito Santo pode ser bem-sucedido em convencer uma pessoa da sua necessidade de conhecer pessoalmente a Deus.

O problema é que estados seriamente viciados nesta tendência de medir nossa experiência cristã e salvação por nosso desempenho. E mesmo depois de começarmos a buscar a vida mais profunda de relacionamento, ainda estamos viciados no hábito de medir nosso sucesso de acordo com o comportamento.

Ora, por favor não pense que estou pondo de lado o bom comportamento. Não estou afirmando que você deve sair e fazer exatamente como lhe apraz, sem levar em conta as normas e regulamentos. O comportamento é importante, não como causa da nossa salvação, mas como resultado da familiaridade com Deus.

"Espere!" objeta alguém, "se o meu comportamento tem obrigação de melhorar quando me familiarizo com Deus através da Sua Palavra e da oração, então por que o meu comportamento é pior quando tento este método? Isto não tem sentido!''

Novamente, você está medindo sua experiência cristã e intimidade com Deus por seu desempenho e suas ações. Mas o cristianismo se baseia em quem você conhece, e não no que você faz enquanto está aprendendo a conhece-Lo melhor. Sua parte no grande plano de Deus é familiarizar-se com Ele, e o seu comportamento é problema dEle.

Ora, depois de perceber que devo conhecer pessoalmente a Deus, começo a desejar esta experiência mais profunda com Ele. Todas as outras pessoas piedosas parecem conhecê-Lo como seu Amigo, de sorte que eu começo a buscá-Lo. Mas então tudo vai mal.

Freqüentemente, nos dias em que eu sei que Ele me ouviu, quando sei que minhas orações foram além do teto – nos dias em que tenho encontrado comunhão significativa com Ele e um senso real da Sua presença – o teto desmorona.

A esta altura, se eu não compreendo o grande conflito entre o bem e o mal, se não enxergo além da alinha própria crise imediata para perceber por que estou agindo pior quando oro, esta será a minha conclusão no final do dia: "Bem, acho que isto não deu certo! Buscar a Deus certamente não adiantou nada hoje para mim. Fiz pior do que antes! Esta hora devocional em que eu busco a Deus não pode ser a solução para os ateus problemas. Isto não dá certo; de sorte que vou dormir manhã de manhã."

Na manhã seguinte, eu me esquivo das minhas devoções, e então, efetivamente, tenho um bom dia. Vivo uma vida perfeita – não perdendo a calma, não gritando com as crianças, nem ficando impaciente no trabalho. Nenhum pecado, nenhum problema. É um bom dia.

A conclusão óbvia, é claro, é esta: "Bem, acho que isto prova. Esta vida mais profunda de que eles têm falado não é tão importante, porque tive um dia melhor quando não gastei tempo com Deus.''

Eu poderia concluir que a fim de vencer meus problemas devo combater o mau combate do pecado ao invés do bom combate da fé e congratular-me pelo meu aparente sucesso, não sabendo que o maligno, que foi responsável por ambos os dias também está se congratulando comigo.

Mas esta experiência de ter mais problemas quando cesso de combater meus pecados e em vez disto busco a Deus, pode continuar ad infinitum para o pobre cristão que não compreende o conflito global. E ele só pode compreendê-lo quando perceber que a experiência de Jó está sendo repetida em sua vida.

Agora olhemos para a mesma situação a partir de um cenário mais amplo. O diabo vê que estou ficando apreensivo com o status quo da minha religião, porque o Espírito Santo está me atingindo com a percepção de que eu preciso conhecer pessoalmente a Deus. E quando o diabo me vê dobrando os joelhos diante da Palavra aberta de Deus, procurando a vida mais profunda com Deus, seu inimigo, ele imediatamente reúne uma confissão de "Meios e Modos'' de seus diabinhos para impedir-me de "continuar".

Tendo lançado seus planos, ele cerra os punhos para Deus e acusa: "Pensas que ele Te ama? Quão iludido podes estar? Ele não está Te buscando por causa do autor. Apenas imagina que pode obter mais coisas de Ti – soluções para seus problemas e a promessa de uma eternidade de riquezas. Agora mesmo ele Te agradece por todas as Tuas bênçãos, alas se as retirares, ele deixará de buscar-Te."

Este é o desafio do diabo – o mesmo que ocorreu na experiência de Jó – e agora o conflito se trava entre Deus e o diabo. É claro que Deus poderia facilmente banir o diabo, precisamente como poderia tê-lo aniquilado no princípio. Mas Deus preferiu não fazer isto, embora tenha o poder. Sempre que o diabo faz uma acusação contra a justiça divina, Deus diz: ''Tudo bem, seja assim. Prova."

O diabo diz: "Não posso prová-lo a menos que me permitas atingi-lo." "Tudo bem", diz Deus, "tens Minha permissão."

Assim, no dia seguinte, quando o diabo me vê buscando novamente a Deus, ele e seus diabinhos me atacam com todas as suas metralhadoras flamejantes. Tudo vai mal. Vivo pior do que nunca dantes. E no final do dia, sou deixado a dar um voto decisivo entre as duas forças contendoras do Universo. Está Deus certo ao dizer que eu gosto de comungar com Ele? Ou o diabo está certo ao afirmar que eu estou usando a Deus a fim de obter mais bens dEle?

Se eu não compreendo este conflito subjacente, então direi: "Esquece isto, ó Deus. Tu certamente não me ajudaste hoje. Olha o que aconteceu quando procurei buscar a vida mais profunda contigo. Fica com ela para Ti mesmo.''

E assim deponho o meu voto do lado do inimigo. Quando o diabo me vê negligenciando esta hora especial a sós com Deus, ele e seus diabinhos fazem uma festa nas regiões onde habitam, e riem das reivindicações de Deus ao amor e à justiça.

Quando sua comissão de "Meios e Modos" torna a reunir-se, o que você supõe que eles decidem fazer? Não é necessário muita inteligência para descobrir. Eles vêem que me dando um mau dia, eu resolvo parar de passar tempo a sós com Deus. O que faria você no dia seguinte se você fosse o diabo? A comissão discute a situação e concluir "Vejam, fomos bem-sucedidos. Ele não está buscando hoje a Deus. Ausentemo-nos dele. Que ele tenha um bom dia!"

Então, no dia seguinte tudo vai ótimo. Eu direi: "Veja. Isto prova. Vivo uma vida melhor quando não passo tempo com Deus!"

E o diabo pode se voltar para Deus em triunfo e dizer: "Tuas afirmações são falsas. Ele só queria receber coisas de Ti, e quando descobriu que não podias fazer mais nada por ele, voltou-se para mim! Oh, ele pode permanecer em Tua igreja, pode tentar por si mesmo obedecer às Tuas leis, mas ambos, Tu e eu, sabemos que ele agora está realmente do meu lado! Eu venci!''

Não são estas as espécies de forças que estamos combatendo hoje em nosso mundo? Sutis? Sim. Eficientes? Sim. Por estranho que pareça, uma pessoa pode continuar este processo por semanas e talvez anos. Já descobriu ser isto verdade em sua própria experiência? Certamente tem acontecido na minha. Eu vivi uma experiência intermitente em termos de buscar a Deus, sem mesmo perceber o que estava acontecendo. Isto me provou que havia um diabo no Universo, porque tive muitos confrontos pessoais com ele! Por muito tempo estive zangado com Deus porque Ele permitia que o diabo me atacasse, embora eu estivesse tentando passar tempo com Deus. Mas quanto mais tempo eu me demorava contemplando todo o cenário, mais começava a divisar o grande amor de Deus no processo.

Quando finalmente sou capaz de perceber que isto é "Jó II" em minha própria vida, então ocorre algo semelhante a isto. Eu penso: "Não é isto interessante? Afinal, por que estou buscando a Deus? Se eu o amo e gosto de companheirismo e comunhão com Ele, então não deveria continuar a buscá-Lo, não levando em consideração como o dia tem transcorrido? Se tudo vai mal, isto é secundário. Eu ainda continuo a buscá-Lo, porque gosto muito de estar com Ele."

Contudo, se eu chego a este ponto, o diabo se apresenta com outra insinuação: "Você não pode voltar-se para Deus amanhã de manhã, por que hoje fez tudo errado! Deus não irá aceitar o seu companheirismo até que você se livre dos seus pecados!"

Às vezes ele é bem-sucedido em levar-me a crer que eu tenho de me tornar mais justo antes de poder voltar – que eu devo gerar o arrependimento e desenvolver um bom motivo para me aproximar antes que Ele me ouça novamente.

É esta a maneira de Deus agir? Deixe-me perguntar-lhe algo: Como eu me livro dos meus pecados? Como experimento o verdadeiro arrependimento?

Isto pode parecer sacrilégio para a pessoa de mentalidade behaviorista, mas gostaria de lembrar-lhe que eu não posso experimentar o arrependimento ou receber de Deus poder para vencer os meus pecados mantendo-me afastado dEle. Mesmo que hoje eu tenha feito tudo errado, devo voltar imediatamente para Ele.

O behaviorista diria: "Bem, seria melhor eu esperar até que tenha um crédito de pelo menos 14 dias de boa conduta a fim de aplacá-Lo e mostrar-Lhe que estou arrependido. Então irei ter com Ele e Ele me aceitará."

Não! Isto é um beco sem saída! Sempre tem sido e sempre será. Não posso me ajudar ausentando-me de Deus, porque minha única esperança de vitória está nEle. Mesmo que eu tenha passado tempo com Ele de manhã, somente para perder a calma durante o dia, brigar com minha esposa, ralhar com as crianças, explodir com o meu patrão (e conseqüentemente perder o emprego), e embriagar-me, devo retornar imediatamente à comunhão com Ele.

E eu digo a Deus: "Pai, certamente tudo correu mal hoje, mas estou voltando a Ti porque preciso conhecer-Te melhor. Quero conhecer-Te melhor. Eu gostaria de aprender a amar-Te por motivos corretos. Por favor, ensina-me a continuar em comunhão contigo, não importa o que aconteça."

Quando eu me desloco do behaviorismo para o companheirismo e relacionamento com Deus, então, e só então, torna-se-me possível continuar buscando-o constantemente. Então, e só então, pode Deus conceder-me a vitória e fazer por mim as coisas que antes Ele não pôde fazer. Decidirei: "Vou buscar a Deus por Seu amor, não pelo que Ele pode fazer por mim agora ou no futuro, mas por causa do que Ele já efetuou por mim na cruz. Vou buscá-Lo, não para que eu possa chegar ao Céu ou obter a vitória sobre meus pecados, mas porque sou grato pelo dom do Seu Filho."

Não é fácil adquirir o motivo correto para buscar a Deus; realmente, temos de orar por isto. Precisamos do auxílio divino mesmo para isto porque nosso motivo inicial é sempre egoísta. Não há nenhuma dúvida quanto a isto – é egoísta. Mas se continuarmos a buscá-Lo constantemente, ao invés de intermitentemente, então Deus poderá ajudar-nos.

Se escolho segui-Lo, independentemente do que aconteça, a cena muda quando Deus e o diabo outra vez se encontram. Deus lhe pergunta:

– Onde estiveste?

– oh, estive rodeando a Terra, e passeando por ela, indo de uma extremidade à outra. Fui bem-sucedido em levar mais pessoas a me seguir. Elas provam que Tu estás errado!

– Espere um minuto! Eu ainda tenho seguidores na Terra. Não consideraste Meu servo? Ele tem permanecido fiel a Mim.

– Bem, eu estive trabalhando nele com tudo o que tenho – responde Satanás.

– Eu sei – diz Deus. – Estive observando. Mas a despeito de tudo o que fizeste para desviá-lo de Mim, ele ainda está buscando companheirismo e comunhão com o Céu, não está?

E ali mesmo o diabo fica nervoso e começa a bater o pé no chão. Deus continua a insistir em Seu ponto de vista:

– Talvez ele Me ame, afinal. Talvez ele aprecie o que Meu Filho Jesus já fez. Talvez ele esteja correspondendo ao amor ao invés de tentar obter mais coisas de Mim. E isto possível?

A essa altura o diabo começa a se retirar, porque ele não tem resposta. Sua única tranqüilidade está em distanciar-se o máximo possível.

O que aconteceu? Dei o meu voto a favor de Deus. Deus está certo, e o diabo foge da cena como um inimigo derrotado. Isto não significa que eu jamba.is tornarei a vê-lo. Qualquer que tenha combatido o bom combate da fé sabe que o diabo recusa desistir. Ele voltará a tentar outra vez. Mas enquanto eu continuar a comunhão com Deus por Seu amor, Ele tem o controle.

Conquanto este conflito como um todo possa ser um tanto vulgarizado, suponho, por uma ilustração muito humana, de qualquer forma tentarei usá-la. É um incidente que ocorreu entre meu filho adolescente e eu.

Um dia ele veio a mim enquanto eu estava me preparando para unta viagem. Disse ele:

– Parece que hoje você está saindo de viagem.

– Sim, filho. Estou – respondi-lhe.

– Bem, gostaria de ir com você. Posso?

Interiormente fiquei cheio de alegria. No profundo do meu ser eu estivera preocupado com o vácuo de comunicação que vinha crescendo entre meu filho e eu. Eu disse a mim mesmo: "Bem, veja isto! Meu filho adolescente quer ir contigo em minha viagem. Ele deve gostar de mim!"

– Está certo, vamos – lhe disse. – Eu gostaria de ter você contigo.

Entramos no carro e começamos a descer a estrada. Depois de alguns agradáveis quilômetros, ele diz:

– Papai?

– Sim?

– Eu preciso de uma coisa.

– É mesmo? O que é?

– Preciso de unta nova motocicleta.

Subitamente todo o quadro se transforma em uma cena lúgubre que não posso evitar – é tão claro. Ele queria sair de viagem contigo para que pudesse. . . Hum. . . compreendo. Respondo:

– Sinto muito, filho. Não podemos adquirir uma nova motocicleta agora. Não poderios arcar com a despesa.

– Por que não?

– Porque eu disse que não temos o dinheiro.

– Mas eu preciso dela.

E nós discutimos por algum tempo; depois veio o silêncio. Este ficou tedioso, aflitivo e durou o dia inteiro. A viagem foi muito longa e tensa. Eu não olhava para a sua direção – eu olhava para o meu lado do carro enquanto ele olhava para o outro lado. Fina1nlente, depois de longas e excruciantes horas, chegamos de volta em casa. Ele vai para a cama sem mesmo dizer "Boa-noite". Eu vou para a cama e fico desperto, olhando para o teto, indagando o que irá acontecer entre eu e o meu filho adolescente.

Agora, vamos refazer o incidente, colocando-o no cenário ideal.

Meu filho vem a mim e diz:

– Papai, vejo que você está saindo hoje de viagem. Se você me permitir, eu gostaria de ir junto.

– Oh, maravilhoso! (Meu filho gosta de mim!) Começamos a descer a rodovia. Tudo é agradável, e continua ass1nl. Ele não me pede favores especiais. Ele vem unicamente porque gosta do seu pai e da oportunidade de companheirismo com ele. A comunicação é tremenda. Discutimos tudo – seus brinquedos, suas tristezas, as coisas que lhe estão acontecendo. Eu partilho com ele alguns dos meus problemas, e comungamos um com o outro o dia inteiro. O tempo passa tão rápido; logo tudo termina.

Quando chegamos em casa ele diz:

– Obrigado, Papai, por permitir-me ir com você. Foi maravilhoso. Tive horas agradáveis.

Ele então vai para a cama, e eu vou para o quarto da família onde está minha esposa e lhe digo: "Querida, não posso crer. Foi tremendo. Hoje tivemos horas muito agradáveis – conversamos e comungamos. Pergunto ... você acha que nosso filho poderia ter uma nova motocicleta?" E de súbito, descubro um dinheiro que eu nem sabia ter.

Ora, não quero forçar esta ilustração para corresponder exatamente a alguma coisa, porque cairíamos no problema do antropoformismo – fazendo Deus baixar ao nosso nível e transformando-O no tipo de Deus cuja suscetibilidade se fere facilmente.

Mas se o Deus de amor que nos criou pode compreender a emoção de estar com alguém que está comungando com Ele simplesmente pela alegria de aprender a conhecê-Lo, em vez de ir apenas para obter coisas – mesmo o Céu ou soluções dos problemas – então, talvez, possamos compreender por que continuamos a agir pior quando oramos, até que venhamos a perceber o motivo correto para buscar a Deus. Deus pode dar-nos esta motivação somente quando vamos a Ele.

Preciso da motivação correta para buscar a Deus e quero orar por isto, de modo que, não importa o que aconteça no futuro, eu continuo a buscá-Lo por causa da Sua grande manifestação de amor na cruz.

Não quer unir-se a mim e buscar a Deus por causa da gratidão pelo dom de Jesus?

 

Querido Pai celestial, obrigado por Teu grande coração de amor, por enviares Jesus para demonstrá-lo a nós. Rogamos-Te que purifiques e transformes nossos motivos corruptos. Freqüentemente temos medido nossa salvação olhando para o nosso próprio comportamento e para as circunstâncias que nos rodeiam. Livra-nos desta armadilha, nós Te rogamos. Por favor, perdoa-nos por esta comunhão intermitente contigo, e ensina-nos a conhecer-Te como nosso Amigo pessoal, de sorte que continuemos indo cada dia, não importa o que aconteça, a fim de familiarizar-nos com Jesus à base de um para um, Te pedimos em nome de Jesus, Amém.

 

 

 

Extraído do livro: Como tornar real o cristianismo.