OS FRUTOS DA FÉ E A DISCIPLINA DO CRISTÃO

 

 

 

                       

Como adquirir crescimento espiritual e maturidade na fé? Como conseguir que aqueles momentos em que nos dedicamos à meditação,  à oração e ao estudo da Bíblia, sejam um regozijo para a alma, e que nossa devoção a Deus seja algo natural e espontâneo?

O escritor Philip Yancey, em seu livro O Deus (In)visível, menciona um colega  de faculdade que levava as questões espirituais bastante a sério. Joe era seu nome, ele se levantava de madrugada, fazia uma série de exercícios para se acordar completamente, depois passava duas horas silenciosas em busca espiritual. Yancey a princípio o considerou um legalista, porém ao cabo de algum tempo descobriu que fez um julgamento precipitado. Nas suas palavras ele diz: “Esse julgamento apressado  denunciou minha imaturidade  espiritual, pois acompanhando Joe nos anos que se passaram, percebi que nenhum superego ou consciência de culpa forçavam suas disciplinas espirituais: ele as praticava de livre e espontânea vontade, como um atleta em treinamento.”1

Yancey nos lembra que uma diferença entre o crente “criança” e o crente “adulto” é que para o primeiro a prática devocional é sentida como uma obrigação, enquanto que para o último é algo espontâneo. Isto deixa claro que para todos as práticas devocionais um dia soaram como uma obrigação, mas nem por isto elas devem ser abolidas, pois são pertencentes a uma fase do nosso desenvolvimento espiritual, sem a qual jamais chegaremos a maturidade na fé.

Ao observar a performance espiritual de alguém que atingiu um  nível de prática devocional similar ao de Joe, somos tentados a estabelecer metas arrojadas de atividades espirituais: passar várias horas em oração diariamente, ler toda a Bíblia em um curto intervalo de tempo, dedicar grande tempo a evangelização, etc...  Estas são práticas que devem ser realmente buscadas e almejadas pelo cristão. Mas o que às vezes esquecemos é que assim como um atleta, precisamos progredir gradativamente. Os melhores atletas da atualidade também precisaram se desenvolver nas práticas elementares da modalidade a qual se destacam. Os grandes músicos também dedicaram muito tempo estudando e praticando escalas e exercícios repetitivos e pouco estimulantes. Sem estes exercícios jamais poderiam tocar aquelas melodias arrebatadoras ou as sinfonias de grande dificuldade de execução.

Nossa maior dificuldade é entender o valor das “pequenas” coisas na vida devocional. A pequena oração feita hoje, não tem que ser um punhado de palavras repetitivas de pouco realismo. O hino que cantamos, seja em casa ou na igreja, deve ser algo vibrante, realizado de forma consciente e de boa vontade. Não devemos realizar nossa pequena ou grande prática devocional de forma desleixada ou sem dar a devida importância. Devemos nos lembrar que o motivo de nossa devoção é manter o relacionamento com Deus. Assim como em qualquer outro relacionamento, as ações devem ser sinceras, reais e verdadeiras. Deus nos conhece no mais profundo do ser. Ele não admite máscaras, ser manipulado por uma falsa piedade ou qualquer coisa que não reflita a verdade de nosso coração.

O amadurecimento espiritual conduz a uma satisfação singular. Talvez possa ser comparada àquela sentida por quem escalou o pico Everest. Para atingir tal proeza o alpinista se exercitou muitos anos em escaladas menos radicais. Só ao atingir o topo do grande monte contempla o sentido de todos os seus esforços ao longo da vida. Com base nesta comparação podemos entender o valor das práticas devocionais hoje. Só interagindo com Deus poderemos alcançar um maior nível de santificação e produzir os valiosos frutos do Espírito.

 

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1 YANCEY, Philip, O Deus (In)visível, São Paulo: Vida, 2001, p. 221.

 

 

 

Aguinaldo Carvalho da Silva

Autor do livro: Jesus o Mestre da Vida

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