JUSTIFICAÇÃO E OBEDIÊNCIA

 

Por Aguinaldo C. da Silva

 

 

            Uma das maiores verdades da Bíblia, é a de que o homem é salvo pela graça mediante a fé (Ef. 2:8). O apóstolo Paulo diz que Abraão foi justificado ainda antes de passar pela circuncisão (Rom.  4:9-10). Mas a Bíblia diz claramente que Abraão guardou todos os mandamentos e preceitos divinos (Gên. 26:5). A afirmação de que Abraão, depois de justificado, foi obediente e fiel guardador dos mandamentos,  nos deixa um exemplo claro de como somos salvos. O apóstolo Tiago nos diz que a fé sem as obras é morta. (Tiago 2:17). Numa leitura superficial parece que Tiago está contrariando Paulo, dando ênfase nas obras em detrimento da fé. Mas numa leitura mais aprofundada veremos que Tiago está apenas mostrando uma verdade acerca da fé, de que ela é válida quando pode produzir  obras, ou seja, de que a fé genuína não fica só no campo da teoria, não se prende só ao intelecto, mas frutifica em ações de obediência.

            Muitos cristãos na atualidade têm uma dificuldade enorme de entender esta questão. Ao ler os escritos de Paulo de que somos justificados sem as obras da Lei (Rom. 3:20) consideram que não precisamos guardar mais os Dez Mandamentos (Êxodo 20:1-17). Não somos justificados por guardarmos a Lei, mas guardamos a Lei de Deus porque já fomos alcançados por Sua graça. Um dia Ele nos alcançou apesar de estarmos no mundo, perdidos em pecado, fazendo as obras da carne. Então Ele nos perdoou, nos aceitou e nos deu o título de filhos, em virtude disto obedecemos Seus mandamentos e seguimos Seus preceitos. Como poderia ser diferente? Eu estava em pecado quando Jesus me aceitou e agora sou contra a Lei que determina o que é pecado? (Rom. 3:20; 7:7)

            Paulo escreveu para os crentes judaizantes que queriam voltar aos ritos da antiga aliança. Na antiga aliança com seus rituais de sacrifício de animais e outras práticas de purificação, ficava em evidência a culpa do pecador e a obrigação que o mesmo tinha de arcar com as penalidades da Lei. O cordeiro indicava a incapacidade do pecador em pagar a dívida e a necessidade de um substituto (Cristo) para lhe trazer justificação. 

            Paulo, portanto disse que estamos livres da Lei porque Jesus já pagou a dívida em nosso lugar, e agora nenhum sacrifício se faz mais necessário (Heb. 10:14,18); mas nem por isto devemos voltar ao pecado (matar, roubar, adulterar, deixar de honrar o nome de Deus, ignorar o Seu santo dia, etc...).

            Não há outra forma de compreendermos este assunto sem cairmos em contradição. Aqueles que dizem que não precisamos mais guardar os Dez Mandamentos, o fazem porque não querem guardar o sábado. Por conveniência afirmam que o sábado pertencia a lei dos rituais e das festas judaicas. Mas só do sétimo dia da semana, o sábado, é dito que o próprio Deus descansou, abençoou e santificou (Gen.2:2-3); quando não havia ainda o pecado, a raça judaica ou o tabernáculo do deserto. Tudo indica que este mandamento é mais do que um ritual da antiga aliança, é um dia especial que transcende a própria história da queda do homem, é um marco eterno da criação divina.

            O apóstolo Tiago nos lembra da necessidade de integralidade na guarda dos mandamentos de Deus, “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar num só ponto, tornou-se culpado de todos.” (Tiago 2:10). Aqui ele não está falando em perfeição, mas na necessidade de reconhecermos os princípios divinos de forma integral e prestarmos obediência de forma sincera e zelosa.

            É propósito de Deus que vivamos em toda a verdade. Não adianta criarmos atalhos para fugirmos aos preceitos divinos. Davi depois de conhecer a maravilhosa graça da justificação (Sal. 32:1,2), disse: “Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim a tua lei está dentro do meu coração.” (Sal. 40:8).