A Parábola do Rico e Lázaro por Vanderlei Ricken


Muita coisa pode ser dita sobre Lucas 16:19 a 31. Este texto apresenta a parábola do rico e o mendigo.

A história contada por Jesus apresenta muitas aplicações. O uso mais frequente da parábola é a tentativa de se provar a vida após a morte.

Primeiro ponto que se deve observar é que se trata de uma parábola, uma comparação, uma ilustração, com o objetivo de se trazer uma lição moral.

As parábolas não podem ser interpretadas como algo literal. Em Juízes 97 a 15, aparece a parábola de Jotão. Nesta parábola as árvores conversam. É óbvio que se trata de uma parábola. Jamais se deveria basear em parábolas para se determinar uma doutrina. De igual forma basear a imortalidade da alma numa parábola é muito questionável.

Eu gosto muito dessa parábola. Ela nos trás ensinamentos fantásticos. E esse era o objetivo de Jesus ao apresentar uma parábola.

Em Marcos 4:33 e 34 diz: "Com muitas parábolas semelhantes Jesus lhes anunciava a palavra, tanto quanto podiam receber. Não lhes dizia nada sem usar alguma parábola. Quando, porém, estava a sós com os seus discípulos, explicava-lhes tudo."

A essência dos ensinamentos de Cristo eram parábolas e é claro que esta também é uma parábola. Ela está numa sequência de parábolas, inclusive ela inicia como a anterior, que diz: "Havia um homem rico..." Lucas 16:1 compare com Lucas 16:19.

Alguns dos atuais doutores da lei, interpretes, pastores, padres, teólogos, creem que a parábola não seja uma parábola. Acreditam que neste caso específico Jesus estava falando de algo que havia acontecido.

Isso me faz lembrar a razão de Jesus ensinar por parábolas.

Mateus 13:13 a 15, encontra-se o seguinte: "Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos e de nenhum modo percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados."

Jesus ensinava em parábolas para que nem todos entendessem... Que interessante...

A pergunta que fica é: Estou eu entendendo de forma correta o que Jesus falou? Ou será que não estou vendo, não estou ouvindo, não estou entendendo, por, quem sabe, o meu coração estar endurecido para a verdade que liberta?

Se no meu coração eu firmar uma interpretação para esta parábola, independente de qual seja, e determinar que tudo que se falar ao contrário é mentira... Jamais verei a verdade. Ou verei e não verei, ouvirei e não ouvirei e nem entenderei.

Quão profundo é esse pensamento. Precisamos reconhecer, com humildade, que a verdade nem sempre está tão clara e que podemos estar errados em nossa forma de compreender a verdade.

II Pedro 3: 15 e 16 nos dá exemplos de textos difíceis e pessoas que torcem os textos. Veja: "e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles."

Eu me preocupo muito com isso e desejo sinceramente não estar entre estes que torcem as Escrituras para a sua própria perdição. Espero também que você me ajude a encontrar a verdade, caso você a tenha.

Quando nos colocamos como donos da verdade, nosso caso pode ser desesperador. Como diz um ditado Indú: A pior forma de não se chegar a um determinado lugar é achar que já se está lá." Não chegaremos a compreender a verdade se não abrirmos mão de nossas crenças particulares.

A verdade nada perde com o estudo profundo, ela irá, simplesmente, se fortalecer mais e mais. Ela se consolida com o estudo profundo.

Eu acredito que a história de rico e do mendigo (lázaro) seja uma parábola. Se é uma parábola não posso basear uma doutrina dela.

Mas, e se ela não for uma parábola? E se ela realmente for uma declaração de Jesus de algo real que estava acontecendo nos dias de Jesus?

O meu compromisso é com a verdade... Vamos, então, analisar a história, crendo que não seja uma parábola. Crendo que seja, de fato, algo real, literal.

Muitas são as conclusões que eu consigo extrair da história, de forma literal. Vamos ver alguns pontos:

- O rico foi pro inferno por ter usufruído do bom e do melhor em vida (Lucas 16:25). O texto diz que a razão dele estar no inferno era por ter tido acesso às coisas boas na sua vida. O texto não diz que ele tenha enriquecido desonestamente e nem que ele era um homem mal e que merecesse o inferno por isso. O texto não diz nada disso. O texto apresenta como razão para ele estar no inferno o fato dele ter sido rico.

- O mendigo foi para o seio de Abraão por ter sido pobre (Lucas 16:25). O texto diz que pelo fato do pobre ter recebido só males em vida, então agora, depois de morto, ele iria usufruir do consolo no seio de Abraão. O texto não diz que este pobre era fiel a Deus ou qualquer outra coisa que poderia fazer dele merecedor do seio de Abraão, além do fato de ter sido pobre. Encontramos aqui o princípio da salvação pela pobreza. Se você for pobre, então irás para o céu. Se você não for pobre irás para o inferno.

Esses princípios de salvação e perdição apresentados nessa história são extremamente questionáveis se interpretarmos de forma literal.

Vamos ver alguns outros pontos:

- O que é o seio de Abraão(Lucas 16:22)? Não sei exatamente... Se for literal é o peito dele. Isso significa que todos os pobres irão para o seio de Abraão? Que tamanho é o seio de Abraão? Para onde foram os pobres antes de Abraão? Para onde foi o próprio Abraão? Sendo que Abraão era muito rico, será que ele estaria no inferno também? Fica estranho interpretar essa história como sendo literal.

- Alma tem corpo(Lucas 16:24)? Será que alma tem dedo e língua? Sente sede? E uma gotinha de água na língua pode servir para alguma coisa?

- É possível ver e conversar um com o outro, um estando no inferno e o outro no seio de Abraão(Lucas 16:23)? Que terrível é estar no seio de Abraão para ser consolado e ver e ouvir os que estiverem no inferno, em prantos... imagino que o seio de Abraão não poderia ser um lugar muito gostoso se desse para ver e/ou ouvir os que estiverem no inferno gritando com dores. Acredito que não seria um Céu um lugar assim... imagine-se no seio de Abraão e ouvindo sons de familiares no inferno...

Não tem como acreditar que esta parábola seja algo além de uma parábola... Ela, literalmente não faz sentido e contraria todo o evangelho.

Vamos agora interpretar como uma parábola. Como seria? Qual foi o objetivo de Cristo ao apresentar essa história.

Vamos ao contexto da parábola para que não venhamos a interpretar a parábola fora de seu contexto imediato.

Observe a sequência de parábolas. Em Lucas 15, Jesus apresenta 3 parábolas, (ovelha perdida, dracma perdida e filho pródigo). O capítulo 16 começa com uma parábola sobre um homem rico que tinha um administrador. Nesta parábola Jesus entra na questão do dinheiro, no uso do dinheiro e que não podemos servir a Deus e ao dinheiro (Lucas 16:13).

Essa palavra de Cristo fez os fariseus O ridicularizarem (Lucas 16:14 e 15). Os Judeus consideravam abençoado por Deus os ricos e que riqueza era sinônima do favor divino, mas Jesus mostrou que não era bem assim...

Jesus agora (Lucas 16:19 a 31), demonstra que um rico pode sim ir para o inferno, mesmo sendo rico, sendo "abençoado".

Essa mensagem foi direto ao ponto que Jesus desejava ilustrar. Jesus utilizou figuras conhecidas por eles para ilustrar uma verdade. O Talmude (Kiddushin 72b) fala do "regaço de Abraão", Josefo (historiador judaico-romano) cita o "seio de Abraão" e outras fontes apócrifas também complementam as ideias populares que Cristo utilizou apenas para ilustrar a verdade acerca da possibilidade de um rico não se salvar (Midrash sobre Rute 1:1; Erubin 19a; Midrash sobre Ecles. 7:14).

Encerro essas considerações citando o texto que a própria parábola acertadamente apresenta:

"Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos." Lucas 16:31

Realmente é assim: Se as pessoas não seguirem a Bíblia (Moisés e os Profetas), jamais seguirão por outro motivo, mesmo que um morto ressuscitasse.

Tudo tem que ser avaliado pelo critério da Palavra de Deus, dela como um todo, não apenas uma parte.

Lembre-se sempre: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." João 8:32